quinta-feira, 24 de maio de 2012

Eneagrama e Hollywood


“A descoberta do Eneagrama pelo cinema norte-americano aconteceu devido à precisão da ferramenta, que colabora para que o comportamento dos personagens se aproxime do que acontece fora da ficção”, afirma Urânio Paes
Por Jeniffer Villapando*
Para dar vida à Lisbeth Salander nos cinemas – uma órfã que sofre nas mãos de um tutor sem escrúpulos que condiciona a liberação do dinheiro da garota à troca de favores sexuais –, Rooney Mara contou com o apoio do Eneagrama.

Daniel Craig (o 007), interpreta o jornalista Mikael Blomkvist, e Rooney Mara, dá vida a hacker Lisbeth Salander.
A ideia de adotar a ferramenta na composição da personagem da primeira parte da saga Millennium- Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2012) partiu do diretor David Fincher – A Rede Social (2010), que entregou à atriz um livro sobre o tema.
A saga baseada no primeiro livro da trilogia best-seller do escritor Sueco Stieg Larsson, na realidade, é uma adaptação feita por David Fincher da versão dirigida pelo dinamarquês Niels Arden Oplev em 2009. Há quem afirme que a reprodução de Opley trouxe muita “energia”, mas ficou com características de um piloto de série de televisão em comparação ao filme de Fincher. As pessoas que tiveram a oportunidade de assistir às duas versões pontuam diferenças na atuação das atrizes Noomi Rapace – que fez Lisbeth na trilogia original e Rooney Mara. O que o público destaca é que as duas trilham caminhos diferentes para a mesma personagem. Seria um resultado do uso do Eneagrama no roteiro?
Para proporcionar mais consistência à enigmática personagem Lisbeth Salander, Fincher orientou que Rooney entendesse a fundo a ferramenta e compreendesse sua personalidade – aparentemente uma Tipo 5.

O tipo 5 tem a tendência de se isolar das pessoas para ter privacidade e ser auto-suficiente.
Lisbeth aparece quase sempre com um visual andrógino – que tem aparência sexual indefinido entre os dois sexos- penteado alternativo, vários piercings, lápis preto em volta dos olhos, correntes grossas e pontudas e de preto. Por trás dessa silhueta externa, a jovem se revela, no desenrolar do drama, frágil. Sem proteção, a garota aprende a se defender sozinha de seu tutor.
Ao que tudo indica, a ideia de usar o Eneagrama para a reconstrução da personagem trouxe bons resultados. A atuação de Rooney Mara na saga lhe rendeu duas indicações importantes neste ano: melhor atriz de drama no Globo de Ouro e melhor atriz no Oscar.
Para Urânio Paes, da UP9, a descoberta do Eneagrama pelo cinema norte-americano aconteceu devido à precisão da ferramenta, que colabora para que o comportamento dos personagens se aproxime daquilo que acontece fora da ficção. Isso confere mais veracidade a personagens muitas vezes complexos. “Há casos hoje nos Estados Unidos de diretores que escolhem os atores conforme os personagens e os próprios tipos dos atores”, pontua.
Urânio destaca ainda que “ao escolher o próprio tipo ou o tipo ligado a uma flecha, a atuação fica mais convincente”. De acordo com ele, o contrário também pode ocorrer: “uma escolha dissonante entre ator e personagem pode colaborar para que o resultado não convença. Isso explicaria por que “atores genais não se saem bem em determinados papéis”. Para Urânio, é o caso de William Hurt. “Quando ele fez um papel do Tipo 9 (aparentemente o Tipo dele na vida real), no filme O Turista Acidental (1988), foi muito bem, mas quando fez um Tipo 3 no filme Nos Bastidores da Notícia (1987), não foi tão convincente”, exemplifica.

O Turista Acidental
Para o psicólogo e especialista na aplicação do Eneagrama em processos educacionais, André Prudente, “personagens que revelam os dilemas internos (dúvidas, sentimentos, dificuldades, buscas) e externos (modo de se comunicar e se relacionar) dos traços, que passam por um processo de transformação na história e expressam o que há de melhor no seu traço de personalidade, podem vir inspirar as pessoas que estão no mesmo processo”.
No Brasil, contudo, a utilização do Eneagrama pela sétima arte ainda não engrenou. Ao contrário do que ocorre em Hollywood, por aqui não existem grandes entusiastas no uso da ferramenta para os roteiros cinematográficos. Algumas iniciativas, porém, surgem no sentido de mostrar que há um grande terreno a se explorar. É o caso do trabalho desenvolvido pelo dramaturgo e criador do site Letras Criativas (www.letrascriativas.com.br), Felipe Chusyd Moreno, que, desde o fim de 2010, lançou sete publicações em e-books com breves histórias dos tipos do Eneagrama.
A proposta é que, no futuro, esses casos tornem-se filmes. Isso só não saiu ainda do papel devido aos recursos necessários para essas produções. “Cada uma dessas novelas tem dez capítulos, que são os argumentos de possíveis filmes”, conta. Além das salas de projeção, séries de TV também fazem parte dos projetos de Moreno, que vê no audiovisual um instrumento de peso para transmitir ao grande público informações relevantes sobre autoconhecimento. Na próxima semana, vamos tratar do uso do Eneagrama em animações. Até lá.

http://mundoeneagrama.org

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